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Colocação Subcristal de Implantes Dentais na Reabilitação Oral Implantossuportada

Colocação Subcristal de Implantes Dentais na Reabilitação Oral Implantossuportada

O tratamento odontológico de pacientes parcial e totalmente desdentados, utilizando próteses implantossuportadas para a sua reabilitação estética e funcional, tornou-se uma modalidade de tratamento consagrada e amplamente utilizada na odontologia moderna.

Para este tipo de tratamento, a preservação do osso peri-implantar é um fator importante para o sucesso. A quantidade e a qualidade do osso que circunda um implante afetam a sua osseointegração e influencia o contorno e a forma dos tecidos moles que o recobre, os quais são importantes para o resultado estético do tratamento.

A estabilidade da crista óssea peri-implantar exerce um papel importante na presença ou ausência da papila interdental.

A perda da papila interproximal pode levar a um problema estético, fonético e a uma possibilidade de impactação de alimento. A perda da papila e a recessão gengival estão relacionadas com a reabsorção da crista óssea.

O sistema de implante, como se sabe, é composto por duas partes: o implante que fica no osso e o pilar ou abutment que é parafusado no implante. Vários fatores podem contribuir para a reabsorção observada ao redor da crista óssea de implantes, tais como: 

  • o trauma cirúrgico; 
  • a sobrecarga; 
  • a peri-implantite; 
  • a anatomia da região cervical; 
  • as características das superfícies dos implantes; 
  • o estabelecimento do espaço biológico; 
  • a presença de um microgap ao nível da interface implante-componente protético; 
  • os tipos de conexões entre os implantes e os componentes protéticos; 
  • a distância interimplantar; e 
  • a posição do implante em relação à crista óssea. 

A colocação subcristal do ombro do implante foi proposta, a fim de se obter um perfil de emergência protética mais harmônico e assim melhorar os resultados estéticos dos tecidos moles.

Modificando a profundidade de colocação do bordo entre as superfícies lisa e rugosa de implantes de duas peças, os implantes com conexão butt-joint com um colar maquinado foi imaginado para compensar a perda de altura óssea vertical evidenciada por muitos estudos.

No entanto, a colocação subcristal deste tipo de implante foi associada com um aumento da perda de osso marginal. Esse aumento da perda óssea pode ser causado pela colonização bacteriana do microgap existente na interface implante-componente protético.

Foi concluído que com os implantes com conexão butt-joint esta técnica não deveria ser recomendada. A Figura 1 mostra a interface protética implante-pilar do tipo butt-joint, colocada ao nível da crista óssea, com a característica de perda óssea na região cervical (Saucerização). No dente que foi utilizado uma conexão protética cônica, pode ser observado o osso sobre o ombro do implante.

Figura 1 – Radiografia periapical

Este problema foi resolvido com a introdução de um implante de conexão protética cônica colocado subcristal, com uma rosca progressiva e um colar rugoso, e quase nenhuma perda óssea foi observada em humanos e animais. Foi demonstrado por muitos estudos, envolvendo implantes de duas peças, que a maioria da perda de massa óssea ocorre nos primeiros meses após a cirurgia.

Um estudo realizado em animais envolvendo implantes de conexão protética cônica relatou que a maior alteração ocorreu ao nível ósseo durante os primeiros 3 meses após a cicatrização. Esse sistema de implante (Figura 2) já provou ser previsível na manutenção de tecidos peri-implantares, principalmente graças à sua conexão cônica não apresentar micromovimentação e ser virtualmente livre de microgap.

Figura 2 – Radiografia periapical mostrando a interface implante-pilar do tipo cônica, colocada abaixo da crista óssea e a avaliação 10 anos após.

Portanto, para se colocar implantes dentais abaixo da crista óssea, o sistema de implante precisa possuir as características apresentadas na Figura 3. Em resumo, estas características são:

  • O implante precisa possuir uma conexão cônica com um forte embricamento mecânico;
  • O implante precisa possuir os diferentes diâmetros entre o implante e o pilar (Platform switching);
  • O ombro do implante precisa ser microrrugoso para uma melhor adesão das células dos tecidos moles e ósseo; e
  • A conexão protética deve ser deve ser à prova de bactéria.
Figura 3 – As características que um implante precisa apresentar para ser colocado abaixo da crista óssea.

Em todos os casos que realizo, tenho feito a colocação do implante abaixo da crista óssea, pois tem sido sugerido que esta posição do implante pode ter alguma influência positiva na formação ou manutenção do pico da crista óssea da região interimplantar. A presença de uma camada de osso sobre o ombro do implante pode proporcionar um resultado favorável nas áreas estéticas (Figura 4).

Figura 4 – Colocação de implante de conexão cônica abaixo da crista óssea, com plataforma switching e a formação de um colar de tecido ósseo e mole ao redor do pilar e do ombro do implante. Esse espaço entre o ombro do implante e o contorno da coroa dental foi denominado de câmara de cicatrização.

Ao contrário do que acontece com outros sistemas de implantes, a inserção de implantes com uma conexão cônica abaixo da crista óssea parece não produzir complicações aos tecidos moles e duros como tem sido relatado na literatura.

Além disso, a partir de um ponto de vista hipotético, a colocação do implante abaixo da crista óssea pode produzir um grande espaço, no qual o coágulo pode ser formado e, em sequência, tecido ósseo pode se desenvolver.

Quando as câmaras de cicatrização são produzidas por causa da inter-relação entre o desenho do implante e a dimensão da perfuração, ocorrerá a formação de um tecido ósseo intramembranoso, imediatamente após a implantação, nos grandes espaços vazios, anteriormente ocupados pelo coágulo sanguíneo. Este espaço biológico tridimensional em torno do pilar é definido por um piso (a plataforma do implante), as quatro paredes laterais de osso, e um teto, especificamente o lado inferior da coroa provisória imediata.

Esse espaço descrito é preenchido por tecido conjuntivo com fibras colágenas, criando uma rede tridimensional em torno do pilar. O equilíbrio biológico obtido nesta “câmara”, como conseqüência de protocolos cirúrgicos e protéticos, poderia ser a razão fundamental para os resultados favoráveis ​​apresentados, e sua manutenção pode ser de extrema importância para o sucesso em longo prazo.



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