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Uma Reflexão sobre o Microgap Existente entre a Interface Implante-Abutment

Uma Reflexão sobre o Microgap Existente entre a Interface Implante-Abutment

A introdução de um implante de duas partes que consiste em uma fixação endóssea e um abutment protético criou uma ampla gama de opções terapêuticas adicionais. No entanto, o uso desses sistemas de implantes significa que existe uma área de contato entre os dois componentes, denominada interface implante-abutment. Isso resulta em lacunas inevitáveis entre o implante e o abutment, permitindo a microinfiltração bacteriana nessa interface. Clinicamente, as reações dos tecidos peri-implantares nesta interface foram observadas e descritas. Estudos em animais mostraram uma redução no volume ósseo na região peri-implantar após a entrega de restaurações dentárias suportadas por implantes de duas partes (Figura 1).

Figura 1 – Nestas fotos podem ser observados os dois componentes de um implante endósseo, a fixação em titânio ancorada no osso e o seu abutment para o posicionamento da coroa protética provisória.

Várias teorias foram propostas para explicar essa perda óssea, fatores implicantes como o protocolo cirúrgico, o modo de cicatrização, a posição do implante e a restauração utilizada. Em um estudo foi demonstrado de forma convincente a relação entre a mobilidade implante-abutment e o início da perda óssea. Outro aspecto é a possível microinfiltração nesta interface, que permite a entrada de bactérias orais no interior do implante, estabelecendo um reservatório bacteriano e resultando em uma área de tecido mole inflamado ao redor da interface.

Os testes de penetração sob carga ou mesmo sem carga podem ajudar a determinar se o espaço presente na interface levará a uma conexão real entre o espaço interno e externo do implante. Para esse objetivo, os pesquisadores desenvolveram várias metodologias, incluindo, entre outras:

  • inocular o interior do implante com um marcador (corante, bactérias, etc.) antes da conexão do abutment e, em seguida, testar se o marcador é liberado do complexo implante-abutment através do espaço dessa interface
  • submergir o complexo implante-abutment esterilizado, montado em uma solução de marcador e, em seguida, testar a penetração colhendo amostras do complexo.

Cada um desses métodos tem limitações potenciais, considerando sua representação da situação clínica. O primeiro método só pode ser usado em estudos de laboratório, e requer que o marcador seja colocado no interior do implante com montagem subsequente do pilar. No entanto, é questionável se o marcador permanece no local durante e após o aperto do abutment. Em um outro estudo foi observado a contaminação de 74 implantes em 309 implantes inoculados com Escherichia Coli. Apesar de suas desvantagens, esse método de inoculação do interior do implante ainda está sendo utilizado em vários estudos. Ao contrário do primeiro método, o segundo é utilizado para testar a penetração de um marcador em um complexo implante-abutment, previamente esterilizado, podendo ser aplicado tanto em testes de laboratório quanto em ensaios clínicos, mas o exato momento da falha não pode ser determinado com precisão durante o experimento, porque a remoção dos abutments para examinar a contaminação, termina automaticamente o experimento. Estudos com microscopia eletrônica e a presença de resíduos nas estruturas internas dos implantes demonstraram a permeabilidade da interface implante-abutment pelo menos durante o tempo pré-definido dos ensaios. Foi observado em um ensaio, a penetração de corante por meio da interface implante-abutment nos corpos de prova, após a ressecção apical dos implantes.

Clinicamente, os implantes são expostos às condições de carga dinâmica associadas à mastigação. Infelizmente, há informações limitadas de estudos in vitro que avaliam a microinfiltração microbiana na interface implante-abutment, em condições de simulação de mastigação. Existe um estudo que investigou algumas amostras de implantes, para vazamento bacteriano em condições de simulação de mastigação em dois eixos. Nesse estudo, uma carga aumentada foi aplicada repetidamente em um plano inclinado conectado ao abutment para imitar uma carga mastigatória, e eles descobriram diferenças estatisticamente significativas entre os cinco sistemas de implantes testados, em relação ao número do ciclo de mastigação e à colonização bacteriana (Figura 2).

Figura 2 – Nestas imagens radiografias, pode ser concluído que existe a evidência de que as alterações na crista óssea dependem não só da presença ou da ausência, mas também da localização do microgap na interface implante-abutment.

Um outro estudo avaliou a microinfiltração bacteriana na interface implante-abutment de 14 sistemas diferentes de implantes com dois tipos diferentes de conexões (cônica e poligonal) em condições de carga dinâmica controlada, usando um simulador de mastigação. As conexões implante-abutment montadas e esterilizadas foram imersas em solução bacteriana contendo cinco bactérias que fazem parte do microbioma oral e, em seguida, testadas quanto aos possíveis vazamentos bacterianos antes e após o carregamento dinâmico. O vazamento bacteriano em potencial foi testado colhendo amostras do interior do implante sem remover o pilar e depois avaliando-as microscopicamente. Uma modificação nos implantes, na forma de canais laterais, possibilitou a coleta de amostras do interior do implante sem a desconexão do pilar, o que significa que qualquer possível penetração bacteriana seria causada por vazamento do lado de fora para o interior do implante através da interface implante-abutment. Em outras palavras, esse procedimento elimina o risco de contaminação durante a desconexão do pilar.

A coleta de amostras após o aumento gradual da carga neste estudo garantiu a determinação do ponto final definitivo da falha, o que permitiu uma análise, dependente do tempo, do comportamento do selado bacteriano das interfaces avaliadas. A evidência da penetração de uma solução marcadora no interior do implante sem amostragem simultânea não pode determinar com precisão o momento exato da perda do selado na interface.

Após um teste de vedação estática, não foram encontradas diferenças entre os grupos testados porque não foi encontrada contaminação em nenhuma amostra de ambos os grupos. O teste de vedação durante o carregamento dinâmico mostrou microinfiltração aumentada em comparação com o teste de vedação estática, mas apenas para as conexões poligonais.

Vários estudos in vitro avaliaram o vazamento bacteriano na interface implante-abutment utilizando condições de não carregamento, incluindo um, dois, três, quatro, cinco e nove sistemas de implantes. Apenas um estudo forneceu uma interpretação dos resultados de acordo com o desenho da conexão (cone/polígono). Este estudo in vitro, apresentou pela primeira vez, um método que descreve a penetração bacteriana clinicamente relevante na interface implante-abutment, com amostragem do mesmo interior do implante antes, durante e após o carregamento dinâmico. A esterilização gama das amostras e a lavagem de controle do interior do implante garantem a integridade do selamento antibacteriano das amostras antes do início do experimento e evitam erros de medição.

Finalizando as propriedades específicas de cada implante, de acordo com o projeto da conexão implante-abutment, podem ser responsáveis ​​por uma possível infecção na região peri-implantar como resultado da microinfiltração bacteriana na interface implante-abutment. Dentro das limitações da simulação de mastigação nos estudos consultados, as conexões cônicas (Figura 3) oferecem vedação superior em comparação com as conexões planas (poligonais, butt-joint ou flat-to-flat).

Figura 3 – As duas coroas unitárias apresentam o mesmo volume de tecido gengival, definindo um ótimo perfil de emergência. Entretanto, na radiografia periapical é possível visualizar mais osso no ombro do implante de conexão cônica, devido essa conexão apresentar maior vedação marginal e um transmucoso mais longo.


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